Tenho a sensação que o amor que se vive nesta cidade é arqueologia, e ao mesmo tempo, um pouco amor marginal, amor proibido, escondido, amor esquecido, remoto, que não respira, nem transpira. Nos olhares que se cruzam, não há brilho, o ar é profano, deturpado, cínico, enganador, e para sobreviver é preciso ser esperto, falso, vendedor, prostituto, a um tal ponto que se esqueceram de ver, de reparar na verdade do outro, deixaram de se reconhecer entre si. Aqui tudo se usa, tudo se confunde, tudo se vende, tudo pode servir para se chegar mais alto, já ninguém é genuíno, ou devem ser poucos, como são poucas as relações genuínas. Extingue-se a genuinidade, extingue-se a inocência, a espontaneidade, amor em vias de extinção. Na grande cidade-museu, na maior cidade arqueológica do mundo, o amor tornou-se arqueológico, enterrado, marginalizado, fora da lei, escondem-no porque se envergonham de o mostrar, porque se sentem expostos ao ridículo pensando ...