Finibus Terrae
Depois de uma viagem até aos confins das terras italianas do sul, exactamente na província de Salento,
regresso outra vez à cidade de Roma.
Uma das coisas que me despertaram o interesse foi a música e as várias danças denominadas como Tarantella.
As suas origens remontam, em algumas fontes históricas, à antiguidade clássica, aos cultos e mistérios Dionisíacos.
Numa destas danças "La Pizzica", que para além de ser tocada nos momentos de festas familiares ou de comunidade, como qualquer uma das outras danças e músicas da Tarantella, chegou a ser considerada como a única medicina contra a mordedura de tarântula.
Diz-se que nestas terras, há muitos anos atrás, o povo na sua maioria camponês, vivia basicamente da agricultura, durante a época de cultivo da terra, sem motivo aparentemente algum, sucedia a alguns deles sentirem-se mal e desmaiarem. Estas pessoas, nos dias seguintes, encontravam-se num profundo estado de transe contínuo e não apresentavam reacção nenhuma ao exterior, à excepção quando escutavam algumas músicas tradicionais, tocadas por alguns instrumentos específicos, em particular com a pandereta.
O curioso nisto tudo, é que eram mulheres a quem acontecia este tipo de situações, o que se chegou a concluir que a mordedura de tarântula seria apenas simbólica, no sentido de restituir uma explicação à insólita situação e ao estado de transe em que estas mulheres despertavam.
Estas danças tornaram-se também numa medicina do povo, uma espécie de receita caseira para o exorcismo dos camponeses nas terras salentinas, que foi assim que passaram a sub-entender o bizarro acto.
Até chegar aos nossos dias, sofreu algumas transformações, sendo reduzida a um nível mais comercial e turístico. Fazendo-se assim diversos festivais, onde o mais conhecido é o festival, La Notte della Taranta, situado em Melpignano, mas existem muitos mais, espalhados pelas várias regiões do sul de Itália.
A Tarantella é um fenómeno ainda vivo e continua a ir muito mais além destes festivais; a música e as danças continuam a ter um impacto forte em todos aqueles que a escutam, escapando a quem a queira explica-la e reduzi-la a um fenómeno meramente comercial.
A Tarantella não priva ninguém que a queira verdadeiramente sentir e conhecer, dançar ou tocar, basta apenas abrir a porta e entrar.
Texto: Clara Marchana
Filme: "La Pizzicata" (1995), de Edoardo Winspear
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