Avançar para o conteúdo principal

A próxima paragem


Saiu na primeira paragem que o autocarro fez, não queria continuar aquela viagem com aquele pavor, o condutor conduzia a uma velocidade inacreditável. E assim que o autocarro parou ela saiu o mais depressa possível, queria pôr-se a salvo daquela aventura que mais parecia estar a andar na montanha russa da feira popular.
Tinha saído numa praça de uma pequena aldeia desconhecida. Ela cobre o rosto com um véu azul transparente e tem um chapéu de palha na cabeça,
olha as pessoas que estão ao seu redor e apercebe-se de que algumas a observam com curiosidade, talvez pela forma como se encontra vestida, talvez por não ser dali, ou talvez por outra coisa qualquer.
Sozinha na paragem do autocarro da aldeia, já não sabia como tinha ali chegado.
Andaria ela a fugir de alguma coisa?
Já não era importante saber, o que era importante era continuar aquela viagem ao encontro do seu destino que ainda não sabia bem qual era.
E assim que apareceu um outro autocarro, meteu-se dentro dele, sem saber a sua destinação, sem saber nada.
Depois ficou a pensar, já sentada no banco, se sairia uma vez mais na próxima paragem, pois também não gostou da forma como o condutor conduzia, demasiado rápido para o seu gosto.
Não queria fazer uma viagem inteira assustada, com aquela sensação inquieta de comichão nervosa em divagações e análises sobre controlos velocidade e medo. E arrepender-se depois dizendo para si mesma que deveria ter saído, e que uma vez mais se deveria ter escutado.

Texto: Clara Marchana

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Sinceridade

Para ser sincera. Sem sorriso. Melancolia. Parece que sinto mais a vida, filigrana de cristal. Olho para as coisas já com saudade. Esmurraça-me. Fiquei comovida, ao ter olhado para o outro, que se manifesta triste com os outros, que pensa sozinho em voz alta, dizendo que se apercebe o quanto os outros se movem apenas pelo dinheiro. Depois toca piano devagar e baixinho, olhando para o vago em frente. Há pouco tinha tocado para a filha pequena, que está longe, através de uma webcam, um mini-recital para doze crianças da sua classe e a professora. Passou o dia anterior e a manhã seguinte a preparar- se para aquele momento. A filha fez-lhe um bolo para o Dia do Pai. As crianças olhavam para ele contentes, enquanto ele tocava, um pai pianista, bateram-lhe muitas palmas, pedindo-lhe para agradecer em forma de vénia. Ao final de cada peça que tocava, pediam-lhe que repetisse a vénia vezes e vezes sem conta. Ficaram contentes com um dia de aulas diferente. Eu escutava o p...

Amuada

  Quero ler mais. Não quero estar dependente de ecrãs, nem de notificações, nem mensagens automáticas dos serviços públicos, nem imagens e videos constantemente felizes, de realidades distantes, de casas ricas ou imagens do excelente profissional, cheio de trabalho e super requisitado, cheio de competências, nem de corridas competitivas, nem de prazos de candidaturas que cada vez mais requerem uma equipa cada vez maior e mais especializada em números, em economia, marketing e direito. Quero mais humano. Mais afetos. Mais empatia, compreensão amor, respeito, dádiva,  mais utopia. Mais liberdade para sonhar, sem ser invadida de pensamentos e listas de deveres e obrigações infindáveis para cumprir, que nunca mais acabam e que tendem a aumentar. Isto é mesmo para acabar com qualquer ser humano, este sistema cada vez mais máquina, mecânico, robótico, "algoritmico", numérico, mais rápido, competitivo, indiferente, especialista e destrutivo, exploratório de todas as mensagens de amo...

Eu quero andar à chuva

Será isso o que precisamos? Andar à chuva? Voltar a ser criança? Ou para quem não teve a oportunidade de o ser, sê-lo agora e relembrar tudo aquilo que o tempo o fez esquecer, ser livre. Texto: Clara Marchana “ Everybody 's Free (To Wear Sunscreen )” Music Video . 1999 - More amazing videos are a click away