Torneira aberta


Era manhã.
Ela levantou-se para ir à casa de banho,
passou o corredor e abriu a porta.
Quando entrou reparou que a única coisa que existia era a banheira.
Esfregou os olhos e olhou melhor e eis que começou a sentir água nos pés, nos tornozelos, e que lhe chegava afinal até aos joelhos,
a sua casa de banho estava inundada, a banheira transbordava de água,
estava completamente submersa,
olhou à sua volta para tentar compreender o que se estava a passar,
se calhar ainda estava a dormir e tudo aquilo fazia parte do seu sonho,
se calhar era isso, um sonho, mas não, era real, bem real,
a sua casa de banho estava a ficar completamente inundada,
sentia-se a Alice do País das Maravilhas, no momento em que come o bolinho e aumenta de tamanho e que assustada, começa a chorar tanto que as suas lágrimas a fazem encolher ao ponto de chegar a nadar no rio das suas próprias lágrimas, o que depois na verdade lhe valeu o bastante, para conseguir entrar onde queria, onde a sua curiosidade a chamava, numa minúscula porta que dava para o Jardim da Rainha de Copas.
Voltou rapidamente à realidade, e reparou que tinha a torneira do chuveiro aberta, a torneira tinha estado toda a noite aberta, mas ela tinha quase a certeza que a tinha fechado na noite anterior.
Fechou-a rapidamente.
A janela também estava aberta e no momento em que a ia fechar, um pombo aproximara-se para entrar, mas tudo aquilo já estava demasiado estranho para ela poder entender e fechou também a janela rapidamente.
Voltou para o quarto um pouco irritada, cheia de pensamentos e sensações.
Estava bem acordada agora, e já não conseguia dormir mais, tinha de chamar o canalizador o mais depressa possível.

Texto: Clara Marchana

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