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Mensagens

A mostrar mensagens de 2010

Que assim seja

Que a Esperança nos nos banhe e renove de dia para dia neste Novo Ano que se aproxima. Agradeço a todos aqueles que passam por aqui. Bem hajam.

Um poema

Poema II " O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de vez em quando olhando para trás... E o que vejo a cada momento É aquilo que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem... Sei ter o pasmo essencial Que tem uma criança se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras... Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo... Creio no mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele Porque pensar é não compreender... O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar... Amar é a eterna inocência, E a única inocência é não pensar..." Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos Imagem: ...

Feliz Nascimento

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1 história por dia #7 ou frio de luz

Apenas frio e nada de novo. Saiu de casa cheia de roupa vestida, em direcção ao café do costume. Desencantada olhava à sua volta. Quanto aspirava aos dias em que sente que tudo crepita de vida e mistério, verdade e curiosidade com uma vontade de conhecer recíproca quando se cruza com um outro alguém, também curioso, também aprendiz de vida, também desperto, sem a máquina rotineira carimbada no rosto. Que se passa, pensava ela, que coisa vazia, tão descomprometida, enquanto olhava em redor, nem uma troca de um único olhar vivo, em acção, um momento ou movimento em respiração pintado de vida. Depois de tomar café volta a casa mais desencantada, mas aceita que em cada dia, em cada sombra, reside um grão de luz. E o que é a sombra senão ausência parcial de luz proporcionada pela existência de um obstáculo. Texto: Clara Marchana Imagem: Iman Maleki , pintor iraniano nascido em 1976 no Teerão

1 história por dia #6 ou ruído

Às vezes o barulho é tanto, abusivamente ruidoso, que não resta senão ficar com a impossibilidade de se tentar escutar seja o que seja. Foi interrompida nos seus pensamentos em contrariedade, por uma rapariga que lhe pedia para se sentar na mesma mesa. Hoje o café estava cheio com as mesas todas ocupadas. -Claro que sim- acenou ela com a cabeça. Depois de tomar o pequeno-almoço a rapariga levantou-se, sorriu-lhe e foi-se embora, ela voltou a ficar sozinha, girando-se novamente para os seus pensamentos mal-dispostos. Texto: Clara Marchana

1 história por dia #5 ou recomeço

Dia chuvoso, existe uma certa beleza neste tipo de dias, ao menos para ela que gosta de dias chuvosos. Entrou no café, naquele que vai todos os dias ou quase todos, à mesma hora, e apenas uma mulher sentada numa das mesas, que lia um livro sossegadamente, enquanto enrolava os cabelos com os dedos. Hoje sentia-se um pouco distante daquele lugar, ou talvez um pouco distante de tudo em geral, imersa em qualquer coisa sem definição nenhuma, não percebendo bem de onde vinha a sensação, tinha acordado assim simplesmente. Assistia apenas ao desenrolar daquilo que a rodeava, a mulher do livro que mudava de vez em quando de página, gente que passava na rua com os chapeús de chuva abertos, uma mulher que entra no café com um bébé transportado num pano enrolado ao peito, coberta por uns lindos xailes de lã em tons de creme, que troca um sorriso com a rapariga que escreve, e pede à empregada uma garrafa de água, empregada esta que não é a mesma dos outros dias, será uma outra, substituta,...

1 história por dia #4 ou impasse

- Oggi non esco, non vado al bar. Imagem: Jumbos.Org

1 história por dia #3 ou Amantes

Assim que ela entrou no café, foi assaltada por uma imagem, que vinha de uma das mesas, dois corpos entrelaçados, num fogo lento de amor e beijos silenciosos, como se estivessem escondidos um no outro, não dando para perceber bem onde começava um e terminava o outro. Este quadro destoava totalmente do ambiente daquele café, como se não fizesse parte daquele conto, talvez porque não estejamos habituados a ter visões destas a cada esquina de rua por onde passamos. Mas ali estavam eles, homem e mulher em ilha prazerosa. Não se detendo com esta visão fugitiva, a rapariga continuou o seu percurso e propósito, sem se aperceber o quanto aquela visão se tinha instalado e ocupado algum lugar numa qualquer parte dentro de si. A rapariga dirigiu-se ao balcão, pediu o café do costume, e enquanto esperava, a mesma imagem, iluminou-se de surpresa, como se quisesse entrar, como se precisasse que alguém olhasse para ela. Uma curiosidade nascia fazendo-lhe alguma comichão. Quem eram os forasteiros? De ...

1 história por dia #2

Este homem esconde o coração. Enquanto fala, enquanto olha, sentado à mesa, sobre uma das suas últimas viagens, tem o coração numa das mãos e esconde-o com um braço atrás das costas. Porque razão? Será que o esconde ou espera apenas o momento certo para o revelar? Parece que o quer dar, mas não consegue. Tem um cão que se chama Zé, que o acompanha sempre para onde quer que vá. Ao que parece é músico, pianista, viaja pelo mundo mas tem medo de sonhar. Nada de especial, apenas isto, no final acaba por contar pouco das suas viagens, fala pouco, mesmo que inicialmente pareça ser extrovertido e falador de páginas prolongadas, explode apenas por poucos segundos com grande expressão ou com uma afirmação convincente e depois apaga, desliga, como se desaparecesse do lugar onde se encontra, e quem está por perto, de boca aberta e olhar expectante, tem a sensação que se calhar alucinou com alguma visão dele, quem o escuta nem sequer tem tempo de entender que ficou por ali a história do homem viaj...

1 história por dia

Esta rapariga vai todos os dias ao café ao mesmo café e quase à mesma hora. Pede o seu café ao balcão, um copo de água e senta-se à mesa, enquanto olha para o programa que passa na televisão, sobre receitas de cozinha, que dá todos os dias à mesma hora. Enquanto olha para o programa desinteressadamente, os seus olhos vão parar mais interessados sobre aqueles que entram e saem do café, ela observa atentamente sem dar nas vistas, nem causar incómodo. Os seus olhos poisam mas não julgam. Também olha para as duas pessoas que estão atrás do balcão a atenderem. A senhora mais velha será a dona do café ou se calhar a mulher do dono do café que hoje não se encontra, se calhar está de folga, ou de férias, ou foi ao supermercado, e uma rapariga nova que deverá ser a sua empregada. Ela gosta de as observar, porque estas duas pessoas são engraçadas, causam-lhe uma certa curiosidade na relação que têm uma com a outra. Existe entre elas um afecto quase que familiar, um carinho, que mesmo...

"Samaya"

" Samaya é uma dança com três mulheres considera-se que seja oriunda da era pré-cristã e que estivesse relacionada com a celebração do casamento. A dança honra o rei Tamar , a mulher-rei da era de ouro da Geórgia nos séculos XII-XIII. As três mulheres pensa-se que simbolizem as três musas, Arte, Poesia e Música, que estão representadas num fresco antigo da famosa catedral em Mtskheta, terra natal do rei Tamar , primeira mulher-rei na história da Geórgia, ao mesmo tempo que representam uma trindade feminina, a jovem princesa, a mulher mãe, e a anciã sábia. Estas três imagens em harmonia, reunidas num só. As velas simbolizam a sabedoria e o conhecimento "Guiar-te-ei na vida na direcção certa." A dança é feita pela Georgian National Ballet Sukhishvilebi , fundada em 1945.

Em nada

Ela não consegue fazer nada, escrever nada, mover-se. Ela não consegue nem sequer dizer que não consegue, "-Não consigo, é uma coisa já difícil de ser dita." Não consegue ser, não consegue tornar-se. Quem vai entender? Quanto mais vai ficando fora do ritmo do mundo, mais difícil é sentir ou ter quem nos entenda, mais difícil se torna mostrar-se, exprimir-se, e afirmar seja o que seja perde todo e qualquer sentido. Quem quererá entender, quem quererá aproximar-se do nada? Alguém se interessa pelo não conseguir? Ninguém, nem mesmo ela. Texto: Clara Marchana Imagem: Joachim Baan

Nebuloso olhar

Com muito esforço ela se levanta, os movimentos são como pesos, o olhar enevoado, e nada parece arrancar com fluidez. Texto: Clara Marchana

Coisas que me tocam

Dias de muita água, água que escorre pelas ruas da minha cara, pelas ruas do meu corpo, deixo escorrer, não construo barragens. Por vezes nem entendo de onde vem, são momentos subtis, quase imperceptíveis, coisas que me tocam, a rapariga que pede na rua, que ama tanto o seu cão e que naquele dia estava mais triste que nos outros dias, alguém que deixa cair o manto e que não se apercebe de estar descoberto, um olhar revelado, uma frase escapada, um gesto frágil que escorrega cá para fora. E a água corre dos meus olhos.

Momentos

Tanta coisa para dizer, para falar, para partilhar e fico sentada a olhar o silêncio. Texto: Clara Marchana Imagem: Uma Vida em Segredo , filme de 2002 com realização de Suzana Amaral, baseado na obra de Autran Dourado, fotografia de Lauro Escorel, nesta imagem a actriz Sabrina Greve que interpreta o personagem de Biela .

"Pitanga"

" O amor nasce como raízes com o ardor intenso do sol: os frutos odores colhidos no tempo floresce em janeiro, amadurece em junho, substância nutritiva força carnosa, avermelhada. O amor nasce em nossa boca na língua, entre a saliva nos distrai dos nossos dramas olhos vibrantes se derramam água de coco, pitanga no monte e nas areias o verde o amor nasce amplamente como raízes, grãos de semente caem ao solo, viscoso, suculento no mês de dezembro, verde carregado e chuvas e chuvas e verdes e depois vermelhos maduros e grãos novos duros, e depois secas sementes. O amor nasce como raízes." Marcia Teophilo " Amazonia respiro del mondo "

Tarquinia

Tarquinia, terra etrusca, lugar encantado. À medida que caminhava pela cidade, pela noite dentro, pelas suas ruas antigas, mais se revelava, sons nocturnos de insectos, o cheiro a fogueira, lareiras, e algumas árvores que generosamente ofereciam o seu perfume, enquanto os gatos perto da igreja de Santa Maria di Castella, guardiães daquele canto sagrado, tomavam banho de céu estrelado. Perfumes e sensações que me devolviam identidade, raízes, ancestralidade, harmonia e serenidade, apagando qualquer instante de dúvida que vagueasse por ali perdido, sem saber por onde andar. Ali, naquele lugar não havia tempo, mas apenas ser. Texto: Clara Marchana

Tempo sem som

Sem conseguir dizer nada. Não consegue exprimir-se. Assustou-se porque no tempo em que falava espontaneamente, não foi compreendida, e foi magoada. Criaram-se mal-entendidos num arco do tempo. Tenta exprimir-se, mas não lhe saem as palavras. Criaram-se rupturas que ainda não cicatrizaram. E depois existem juízes à espreita, à espera de criticar, de julgar, ansiosos por colarem no outro um previsível rótulo de culpado ou inadaptado. Texto: Clara Marchana

Pensamento em risco

Pensamentos rasgados, riscados, pensamentos que se escondem com receio de serem magoados, porque não se assumem, não se mostram. Pensamentos escorregadios, em risco de queda. Visto o meu casaco preto comprido na cidade, e começo a voar, mas ninguém me vê, ninguém acredita. Pego em dois transeuntes e levo-os comigo, digo-lhes para acreditarem, que podem também fazê-lo, apenas é preciso acreditar. Eles olham-me, não sorriem, incrédulos. Continuo a alimentar a chama da crença enquanto passeio pela cidade enquanto passam por mim pessoas que correm seguras aos seus destinos. Continuo a dizer baixinho para mim, eu acredito, eu acredito, eu acredito, para não deixar morrer a esperança e a vontade. Texto: Clara Marchana

Como será voltar?

Como será voltar? Voltar a casa é partir Deixar-me levar Seguir sem rumo Sem saber quando tornar. Voltar a casa é saber esperar, depois correr, e não saber quando regressar Sentir a saudade que aperta, como se tivéssemos deixado a pátria no fundo do mar. Voltarei um dia aos braços da minha terra? Terra inalcançável de outrora, mas que agora, agora sim quero chegar. Como será voltar? Texto: Clara Marchana Imagem: Filme The Wizzard of Oz (1939), realizado por Victor Fleming

"Bab'Aziz, The Prince who contemplated his soul"

O cego sufi Bab'Aziz e a sua neta Ishtar , atravessam o deserto para ir ao encontro de uma reunião de dervixes, que acontece em cada trinta anos. O local de encontro é secreto e para o encontrar há que se deixar guiar pela fé e pelo silêncio. Durante esta longa caminhada, ele conta à neta a história de um príncipe que abandonou o seu reino para contemplar a sua alma através de uma poça de água que encontra no deserto. E que ao despertar desta longa contemplação descobriu que tinha aprendido a falar com a voz do coração. Nesse momento decidiu levantar-se e partir para ir ao encontro dos outros seres humanos. Filme:  Bab'Aziz (2005) realizado por Nacer Khemir, o argumento é de Nacer Khemir e Tonino Guerra (colaboração), música de Armand Amar.

Lughnasadh ou Lammas

Um feliz Lughnasadh e bençãos neste renascimento. Fiz o meu primeiro pão de trigo e noz. Lughnasadh celebra-se a 1 de Agosto no hemisfério norte e no dia 2 de Fevereiro no hemisfério sul, é simbolizado pelo trigo, que é identificado por um dos aspectos do deus Sol, a que os celtas chamavam de Lugh . Lammas é uma festa, anglo-saxónica, de agradecimento pelo pão, que é representado como o primeiro fruto da colheita. Dia propício aos agradecimentos, agradecermos tudo aquilo que colhemos, o bom e o menos bom, acreditando que as coisas menos boas têm um espécie de "propriedade medicinal" que pode actuar sobre nós de forma benéfica e curativa. "As noites começaram a ser mais longas desde o Solstício de Verão, aproximando-se a época de partida do deus para a Terra do Verão, que deixou a sua semente no ventre da deusa, de onde renascerá (mantendo o eterno ciclo do nascer-morrer-renascer). " (1) Texto: Algumas informações e o texto assinalado (1) foram retiradas da Wiki...

Fragmentos

Fragmentos, de um texto, de um tempo e de um espaço que fala, paisagens interiores que se tornam poesia física, dançar a emoção. A procura de um significado que não se chega a alcançar, a espera, à espera que o amor entre, saia, passe ou fique. A falta de alguém, de alguma coisa, qualquer coisa que falta, a metáfora móvel do que se sente. Texto: Clara Marchana

Das sombras

Existem períodos que nos sentimos assim, sem nada a dizer, sem saber o que exprimir. Talvez seja tanto o que se tem para falar que não nos decidimos pelas palavras, vamos guardando no baú as coisas que ficam por dizer, aguardando o momento certo, e  o tempo vai passando, e o momento certo se calhar também, um dia abrimos o baú, e saltam de lá todas as palavras, palavras que puxam histórias, e histórias cada vez mais longas. E o que fazer com esta confusão que salta à nossa volta? Podemos continuar sem abrir a boca, adiando mais uma vez as conversas, os gritos, os segredos, as confissões, os desabafos, os choros, o dizer que te amo, e às vezes até o rir, por receio que alguém se lamente, por se cantar sempre a mesma canção, ou então como um fruto, que ainda é verde, que só se pode colher no momento certo, e pensamos que talvez seja melhor continuar a esperar. A matéria de que se trata, por vezes, é densa e difícil de se tornar palavra, matéria pouc...

Sobre solidão

Sinto-me só. Que difícil é estar só. E eis que chegam os medos engalfinhados, esfaimados, que tentam sobreviver, desarrumando tudo, deixam tudo de pantanas, nada resta no seu lugar, nada. Permaneço imóvel, ao ver tudo isto a girar à minha volta, à espera que abrande a marcha destes bichos. Fico quieta sem os perturbar. Espero que passem. Nunca os tinha visto passar tão perto de mim, fugia sempre, são apenas seres assustados, que precisam de lanternas, para reencontrar o caminho de regresso a casa. -Voltem a casa, medos esfaimados, alimentem-se de canções de embalar até adormecer, e depois dissolvam-se em partículas de pó de estrelas, transformem-se em luzes bonitas, e façam-me estar descansada. Texto: Clara Marchana Imagem: Encontrada na net sem créditos

Eclipse parcial da Lua

Hoje Lua Cheia, haverá um eclipse parcial da Lua, alguns aconselham a "sentar-se debaixo da luz da Lua e sentir as energias." Este eclipse é visível no Leste da Ásia, Antárctica, Austrália, América do Norte e do Sul, Oceano Índico e Pacífico. Fotografia: "Eclipse Moon Rising Over England" de Gain Lee, tirada da net, deste site: www.astronet.ru

Saramago e agora?

Saramago, e agora, quem é que nos vai contar histórias como tu nos sabias contar, com a tua forma que de escrever, de partilhares connosco esse teu mundo, o teu ser, e muito mais que isto mas que não consigo explicar? Gosto de mergulhar no universo de Saramago, fico sempre com a sensação de querer lá voltar. Não saberei dizer qual a sua melhor obra, por isso falarei do primeiro livro que li, A Caverna , que foi de alguma maneira especial, como quando visitamos um país pela primeira vez, e que gostamos subitamente de lá estar, sentimo-nos acolhidos. Uma sensação familiar. Enamorei-me dos personagens de A Caverna , tinha a sensação que estar perto deles , das suas vidas, diálogos, pensamentos, até os nomes me soavam bem: Cipriano Algor , Marçal Gacho , Marta filha de Cipriano Algor , o cão de nome Achado (que foi realmente achado), e Isaura Estudiosa , uma figura engraçada que de alguma maneira traz a este círculo uma história de amor. Tudo se passa à volta de uma olaria que pertence...

Bocadinhos de pensamentos

A procura por vezes leva-nos para lugares que não reconhecemos, lugares longínquos do nosso ser, onde não sabemos onde estamos, nem para onde iremos ser levados, sem luz, sem bússula, sem mapas, sem fios condutores. Espero sinceramente chegar bem, chegar a bom porto depois desta longa viagem. Texto: Clara Marchana Fotografia: Jan Saudek

À procura do mapa interno

Ela sente um silêncio à sua volta, sem eco. Senta-se no chão de uma rua sem saída, e fica à espera. Pede para que lhe seja revelado o caminho por onde deve seguir e ser guiada. Sente-se incapaz de tomar uma decisão. Há já a algum tempo que caminha sem saber para onde vai, e já não sabe se isso lhe faz bem. Pede ajuda, porque tem a sensação que caminha em círculos, e não entende porque ainda ali se encontra. Texto: Clara Marchana

a reflectir

" O pensamento pode apontar para a Verdade, mas não é a Verdade. Esta é a razão pela qual os budistas dizem: "O dedo que aponta para a Lua não é a Lua." Texto (tirado do livro): "Um Novo Mundo" de Eckhart Tolle Ilustração: Tsukioka Yoshitoshi (Japão,1839-1892)

Esta insistente ausência

Lisboa, Após esta longa ausência, numa exaustiva viagem de regresso a casa, num percurso que ainda não se deu por terminado, neste voltar que levará o seu tempo, onde a raíz sem-abrigo não consegue agarrar facilmente a terra onde outrora nasceu e cresceu, mas que quer voltar, voltar tocar, voltar a sentir, enraizar. Leve sussurrar da terra mãe que a chama, que a quer abraçar com a sua força. A raiz fraca de tanto se ter deixado errar pelo mundo, estende agora a mão, o braço, o corpo cansado, meio perdido, e deixa-se entregar, deixa-se cair. Milagre talvez nesse eterno retorno que nos faz entrar nos ciclos, círculos infinitos de renovação da vida. Texto: Clara Marchana

Ainda sobre a ausência

Alguma ausência, num tempo de regresso à terra onde nasci. O vento sopra forte e as horas passam devagar. Texto: Clara Marchana

Dia da Terra, Earth Day

Dia de Gaia. Mãe Terra. Uma semente é um bosque inteiro Uma semente que aparece como planta é como o acto de abrir a boca. É o Verbo a comunicar, a dizer de si ao outro. As plantas são seres verdadeiros, como as pedras e os animais e os astros. São verdadeiros porque não escondem o que são, todo o seu acto existencial é esse mesmo mostrar aquilo que são, o que trazem em si. "O Canto dos Seres, saudade da natureza" de Pedro Sinde

"Saber Conviver"

A proposta de escrever sobre o tema " Saber Conviver" partiu do blog "Crianças Pagãs" de Luciana Onofre . Fica aqui o meu agradecimento. "Saber Conviver" é coabitar, tolerar, abrir, é não ter medo, olhar nos olhos do outro, persistir no encontro de se encontrar a si próprio, querer aprender, trocar experiências, escutar, respeitar e reconhecer o valor de cada um, incluindo o de nós mesmos. É não se deixar render às circunstâncias, que por vezes nos apagam, e apagam os nossos sonhos. Ter a coragem de falar o que se sente e acreditar que sonho pode ser realidade. É abraçar e proteger o nosso planeta (a nossa grande casa), todos os animais, plantas, insectos... É saber mudar, aceitar, transformar, cair, levantar-se, criar, criação, voltar a criar, imaginação. É uma espécie de correr, crepitar de alegria logo de manhã com um sorriso nos olhos, agradecer à vida de poder estar aqui. É a oportunidade de crescer, errar, sab...

"Untapped"

"...Untapped source of peace, Women in circles, Women connecting, Women together Bringing the sacred feminine, Maternal instinct, sister archetype, Mother power Into the world." (Excerto do poema Untapped Source of Peace de Jean Shinoda Bolen )

Porque fizeste anos mãe

Porque fizeste anos mãe e não te dei um presente, porque estás longe, e não te pude abraçar. Porque sinto que te posso dar sempre mais e às vezes parece que esses momentos me escapam, deixo-te aqui este poema-presente-fotografia. Mãe, mulher que tanto admirava quando era pequena e que ainda hoje admiro. Lembro-me de ficar a olhar para ti, atentamente, enquanto te olhavas ao espelho e decidias que lenço pôr, que roupa vestir, eram tantas as coisas: brincos, colares, casacos, calças e saias, tecidos coloridos, texturas, olhava-te e pensava que tu eras a mãe mais linda do mundo, era mágico tudo aquilo para mim, era como escutar uma história de embalar, onde tantas coisas podiam acontecer, viajava na imaginação, na magia das histórias, era uma liberdade. Uma vez contaste-me, que quando eu tinha um ano e meio, e te estavas a vestir em frente ao espelho, e como habitual eu assistia ao teu ritual de indumentária, e naquele dia disse-te uma coisa que me disseste que jamais esquecerás, que olh...

Reencontro

Estamos aqui reunidas para crescer e evoluir. Saber encontrar-se a si própria através do outro. Eu e tu, no mesmo espelho. Bem hajam. Texto: Clara Marchana Imagem: " Dancing till Down ", de Marianne Miller

Renascimento

Renascer 1. Nascer de novo. 2. Renovar-se; rejuvenescer. 3. Tornar a aparecer; ressurgir; germinar de novo. 4. Emendar-se; corrigir-se. 5. Teol. Tornar ao estado de graça. " A crucificação branca ", Marc Chagall (1887-1985) " La crocifissione ", fresco de Giotto (1267-1337), Capella degli Scrovegni, Padova

Sobeja aspiração

Este espaço pequeno, aliás minúsculo, não me deixa mover nem sequer um centímetro do meu corpo. E enquanto não me posso mexer, sonho. Sonho pequenino aquilo que posso, porque não tenho espaço mesmo dentro do sonho. E às vezes quando olho para o céu, penso no dia em que voltarei a casa, e o sol que brilhará muito, abraçar-me-à sobejamente sarando tudo. Texto: Clara Marchana Imagem: " As Asas do Desejo " (1987) de Wim Wenders

1ª Lua cheia da Primavera

E eu para aqui escondida atrás das palavras.

"Poemacto"

(Ao Dia Mundial do Teatro, um poema de Herberto Helder) O actor acende a boca. Depois os cabelos. Finge a s suas caras nas poças interiores. O actor põe e tira a cabeça de búfalo. De veado. De rinoceronte. Põe flores nos cornos. Ninguém ama tão desalmadamente como o actor. O actor acende os pés e as mãos. Fala devagar. Parece que se difunde aos bocados. Bocado estrela. Bocado janela para fora. Outro bocado gruta para dentro. O actor toma as coisas para deitar fogo ao pequeno talento humano. O actor estala como sal queimado. O que rutila, o que arde destacadamente na noite, é o actor, com uma voz pura monotonamente batida pela solidão universal. O espantoso actor que tira e coloca e retira o adjectivo da coisa, a subtileza da forma, e precipita a verdade. De um lado extrai a maçã com sua divagação de maçã. Fabrica peixes mergulhados na própria labareda de peixes. Porque o actor está como a maçã. O actor é um peixe. Sorri assim o actor contra a face de Deus. Ornamenta Deus com simplicida...