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Esta insistente ausência


Lisboa,

Após esta longa ausência,
numa exaustiva viagem de regresso a casa,
num percurso que ainda não se deu por terminado,
neste voltar que levará o seu tempo,
onde a raíz sem-abrigo não consegue agarrar facilmente a terra onde outrora nasceu e cresceu,
mas que quer voltar, voltar tocar, voltar a sentir, enraizar.
Leve sussurrar da terra mãe que a chama, que a quer abraçar com a sua força.
A raiz fraca de tanto se ter deixado errar pelo mundo,
estende agora a mão, o braço, o corpo cansado, meio perdido,
e deixa-se entregar, deixa-se cair.
Milagre talvez nesse eterno retorno que nos faz entrar nos ciclos, círculos infinitos de renovação da vida.

Texto: Clara Marchana

Comentários

Ana Carvalho disse…
também já me senti assim, andarilho... por andar sempre de um lado para o outro...como se não tivesse terra. Mas é bom poder conhecer outros locais e ver outras formas de viver a vida ;) Mas a sensação, às vezes, pelo menos para mim, era de ser um estrangeiro em todos os locais por onde passava... hoje já paro mais por casa, mas foi preciso passarem uns anos para começar a sentir aqui raizes. Vivo longe do sítio onde cresci, do sítio onde estudei... ainda sinto que não sei de onde sou.
Beijinhos
Clara Sofia disse…
Este comentário foi removido pelo autor.

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