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Mensagens

Foi a lua nocturna

E assim levou o vento desta noite, o amor. Levou também quase tudo. Levou tudo o que tinha para levar, numa lua cheia ventosa. Talvez nem tenha sido o vento a levar o amor, nem a lua cheia, mas o desgaste de tanta fita adesiva, de tanto remendo na mesma zona partida, uma e outra vez, até se tornar em vezes sem conta. Uma zona partida depois fica ferida, frágil, sensível e reclama ser sarada. Esta lua cheia, já foi há um pouco, mas isto que conto não, de facto a lua cheia não levou ontem o amor, mas a noite sim, levou muita coisa. Talvez tenha sido apenas uma lua nocturna. Texto: Clara Sofia

Nublada

Noite nublada. Bruma caminhante por entre as árvores. Sussurros de aves. Ela gostaria de saber falar como elas. Não poderíamos falar todos como pássaros? Nao poderíamos ao menos de vez em quando, aproximarmo-nos para os escutar? Darmo-nos esse tempo? Serenarmos nessa condição a nossa condição, sem ambição, e de apenas estar presente. Texto: Clara Sofia

Passos orvalhados

O fogo. O céu azul limpo. O sol em esplendor num tempo frio e húmido. Terra verde brilhante magicamente orvalhada esta manhã enquanto caminhava para passear a Lucy. Tudo à volta em silêncio, passos no orvalho da erva, pássaros cruzavam linhas no ar, rebentavam energia nas suas asas e assobios. Segredos nas asas deles, segredos da vida secreta que te mima e abraça, quando ao redor dela te encontras em silêncio ou a falar baixinho, como uma criança pura no fulgor do encanto inicial. Texto: Clara  Sofia

Confissões inesperadas de rua

Hoje uma senhora baixinha, escondida, silenciosa, anciã, desfez o seu rosto em lágrimas perto de mim, sem se conseguir conter, ao acarinhar a minha cadela que estava à porta de sua casa. Recordou-se do seu cão que tinha partido há duas semanas, confessou-me que lhe fazia muita falta, sente-se só e ele era a sua companhia. Meteu a chave no portão de sua casa, e entrou silenciosa e tímida. Escondida e prostrada na sua emoção. Texto: Clara  Sofia

Rendermo-nos à fragilidade

Rendermo-nos à fragilidade é arrancar com força, aquilo que mais nos agarra. Está-me a custar a passar. Nunca pensei que doesse tanto. Torna-se uma dor quase física, entre a garganta e o esterno até ao diafragma. Latejante no plexo solar. Aproximar-me dela, foi saber um pouco mais de mim, aproximar-me sem medo da morte, os braços dela, também é uma mulher, também é a brincar. E assim fui andando a saber, ao sabor do desconhecido, saber no escuro. Queria ir, ver mais, sem sons, sem ter de querer, sem ter de ser alguém, algo. Queria ver, sentir, caminhar na linha, tocar os braços, abraços, o espelho de mim. O espelho de mim no outro. O espelho que cai e parte, mas não doi quando magoa, porque é querido, saber não querer ir mais além do que aquele lugar. Não tem de ser assim. Pode assim descansar em paz, no lugar da alma, nos braços dela, amar o desconhecido, lugar limpo, vazio sem sons e significados, limpo de palavras, de agregados, de coisas, de obscuro, de livros, de carne, ...

Alentejo Plim Plim

Estou assim aconchegada, embatida num ser que faz livres piruetas e não tem realidade, tem todas as realidades ao mesmo tempo, criações, criações de mundos e love stories. Beijos desmedidos. Infância, Alentejo do sonho meu, montes, cheiros e flores campestres, risos e insectos, magia do imaginário, o avô da bicicleta a lavar os animais, a fonte da água pura, bacias e tanques, ameixas e dióspiros. Livre, livre, livre de sonhar, a piscina do tanque onde aprendi a nadar, histórias contadas à meia-noite à beira das portas de casa. Resgatados os instrumentos visionários de corridas na erva com os galos atrás de mim. Sopro de mim para o universo inteiro, naves espaciais em forma de cavacas doces e brancas, leves gotas de orvalho, o frio do amanhecer, em que descubro qualquer coisa que me abala na necessidade de sentir a rebeldia de viver em laços de coisas assim mais nobres, mais beijadas, mais conscientes, mais discretas, seguras em sentidos multi-laterais. Nobre aquele que faz ...

Drummond

"Não deixe o amor passar" Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.  Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.  Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.  Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.  Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O Amor. Carlos Drummond de Andrade