Alentejo Plim Plim

Estou assim aconchegada, embatida num ser que faz livres piruetas e não tem realidade, tem todas as realidades ao mesmo tempo, criações, criações de mundos e love stories. Beijos desmedidos.

Infância, Alentejo do sonho meu, montes, cheiros e flores campestres, risos e insectos, magia do imaginário, o avô da bicicleta a lavar os animais, a fonte da água pura, bacias e tanques, ameixas e dióspiros.
Livre, livre, livre de sonhar, a piscina do tanque onde aprendi a nadar, histórias contadas à meia-noite à beira das portas de casa. Resgatados os instrumentos visionários de corridas na erva com os galos atrás de mim. Sopro de mim para o universo inteiro, naves espaciais em forma de cavacas doces e brancas, leves gotas de orvalho, o frio do amanhecer, em que descubro qualquer coisa que me abala na necessidade de sentir a rebeldia de viver em laços de coisas assim mais nobres, mais beijadas, mais conscientes, mais discretas, seguras em sentidos multi-laterais. Nobre aquele que faz o que sente de verdade, sem precisar de invocar casos infinitos  de paródias lúcidas e sem expressão, sem sentido, sem amigos, sem razão, sem termos de ordem concreta universal, lucidez abrasiva que repele o destino dos homens.
Sempre andaremos às voltas na navegação perseguida pela deriva, temos todos uma mestra que cuida de nós, ou mais. Sim à vida. Sim na necessidade do brilho, da luz cintilante e discreta de plim plim.

Parece que fico especada a olhar para algures em parte alguma e capto algo que deparo e sabe-me a todos os dias, a todos os lugares ao mesmo tempo.
Viajei na tenda confusa, não sabia caminhar, tirei os véus que ofuscavam e senti, saboreei o passado remoto, mas também o presente remoto e cruel, em que largo qualquer sentido prático e só fico a sentir o outro, os outros, e eu, ali em consonância com tudo, captando forças de veias que correm em maresias e todas as naturezas e liberdades doces de quem tem dúvidas tesas e crespas.
Vou formosa e não segura, sem cântaro na mão, para destino incerto a parte alguma mas na riqueza da descoberta. O sono desconecta-me, desaba-me, abala-me, deixa-me na terra, ofuscada em pensamentos e lágrimas escondidas de noites sem dormir, sem, sem.

Somewhere ok, não sei mesmo o que pensar, uma gaivota na chaminé que vi há pouco, a fuga da realidade, a evasão, o destino, as vozes dos sons desconhecidos que abrem o mar da aventura e do silêncio, do abismo e da obrigação, da casa, do sabor da leveza, não vou sentir o que não faço, mas também o que é o destino da liberdade, de qualquer coisa que passa, que rascunha em mim no comportamento dele, que não faz nada.
Que loucura, que viagem de papel sem sentido, e não posso ser assim como este papel que não sabe ser mais branco, branco de puro que é, que não é e não sabe, e voar até ao lugar mais longínquo, mais inóspito, mais vago, mais absurdo. A realidade assombra alguém, algumas pessoas carentes, de falta de sábios, de casa, de lugar em mim, em ti, não vou, não sei, lá, lá, lá, lavar a alma com açúcar, com i.

Então onde é que ia? Bem, bem, bem, para lá do universo indescritível, hoje não sinto a leveza, abre-se-me a garganta com vespas e abelhas e círculos obtusos em sensações e risos.

E também não faz sentido. Vais entrar em loops de risos, e em lá, lá, lá de lugares e cinturas pélvicas imaginárias em que a força é muito grande.
Pronto, recomeço a divagação de vidas e sentires irreais, reais, e juntos para sempre, sons em sons de máquinas e folhas, rascunhos, espirros e a minha caneta escreve algo, e mais uma palavra híbrida e límpida.

Texto: Clara Sofia

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