Alice


Existem dias em que não percebemos a direcção para onde a vida nos leva.
Vagueamos cegos, tacteando paredes de realidades pintadas e repintadas, de projecções, sonhos e ilusões, vagueamos pelas salas da vida, no escuro, a tentar discernir o que é real e o que não é.
Existem momentos assim, que parece que não chegamos mais ao fim daquele túnel escuro.
Parece que estamos em pleno vôo, dentro de um avião, que atravessa uma zona de turbulência, onde esperamos que aquele momento passe o mais rapidamente possível, que termine e aterremos em segurança e zona segura.
Os músculos contraem-se, os pensamentos reflectem-se e desenrolam em grande velocidade, pensamos muito, pensamos tanto que os pensamentos voltam a ser nada, depois misturam-se as emoções com os medos, e a partir de um determinado momento parece que já nem medo temos, já não existe o medo, entregamo-nos ao destino sem fazer nada, e quando aterramos apreendemos que tudo é muito mais profundo do que uma vontade pessoal ou pensamento.
Aprendemos então a esperar.
Mas no momento da espera, vêm visitar-nos a fragilidade e o receio, que contribuem para uma nova segregação de pensamentos, chega novamente a dúvida e instala-se na poltrona à nossa frente,
queremos encontrar rapidamente um sentido ou uma explicação para o inexplicável mistério da vida, que nos faça restabelecer uma ordem, que nos dê referências e um sentido.
Queremos ter a certeza de que a bússola está ajustada na direcção certa.
A resposta não chega logo.
E não nos resta senão a coragem de ir para a frente, de ir mais longe.

Texto: Clara Marchana

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