Porque fizeste anos mãe
Porque fizeste anos mãe e não te dei um presente,
porque estás longe,
e não te pude abraçar.
Porque sinto que te posso dar sempre mais e às vezes parece que esses momentos me escapam,
deixo-te aqui este poema-presente-fotografia.
Mãe, mulher que tanto admirava quando era pequena e que ainda hoje admiro.
Lembro-me de ficar a olhar para ti, atentamente, enquanto te olhavas ao espelho e decidias que lenço pôr, que roupa vestir, eram tantas as coisas: brincos, colares, casacos, calças e saias, tecidos coloridos, texturas, olhava-te e pensava que tu eras a mãe mais linda do mundo, era mágico tudo aquilo para mim, era como escutar uma história de embalar, onde tantas coisas podiam acontecer, viajava na imaginação, na magia das histórias, era uma liberdade.
Uma vez contaste-me, que quando eu tinha um ano e meio, e te estavas a vestir em frente ao espelho, e como habitual eu assistia ao teu ritual de indumentária, e naquele dia disse-te uma coisa que me disseste que jamais esquecerás, que olhei para ti de "olhos muito arregalados" (expressão que costumas utilizar): "Oh mãe estás mesmo impecável!"
Contaste-me que nesse momento, paraste surpreendida e pensaste: "Mas esta criança tem apenas um ano e meio, onde é que ela foi buscar a palavra impecável!? Onde é que aprendeu ela a falar assim?"
Ao que parece, não era a primeira vez que me expressava desta forma. Comecei a falar e a expressar-me bem muito cedo.
Confessaste-me, muito mais tarde, que às vezes te assustava esta forma que eu tinha de falar e de encontrar certas palavras para me explicar e dizer alguma coisa. "Como é que um corpinho tão pequenito, assim tão pequenina, pode dizer estas frases tão cheias de gente crescida?"
Ainda hoje, quando estás entre amigos, ris às gargalhadas bem altas e bem disposta contas esta e outras histórias. O quanto gostas de estar rodeada de pessoas e rir muito alto, adoras rir.
Lembro-me também, ainda pequena, em casa, calçava os teus sapatos de salto alto (naquela época pareciam-me enormes e altíssimos, do tipo sapato escadote), punha os teus lenços na cabeça, e caminhava pela casa, arrastando-me com os sapatos pelo corredor da casa, inventando as minhas histórias.
Texto: Clara Marchana
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Beijos...