Passeio côr de terra
(Texto dedicado à minha irmã Paula)
Quando me convidaste a fazer um passeio pelos campos, dei um sim de impulso, surpreendeu-me.
Pus as galochas e saí de casa a correr com a minha cadela,
chovia suavemente, e enquanto caminhava qualquer coisa mudava dentro de mim.
Corria, e de vez quando voltava a abrandar, e inesperadamente sentia-me livre,
vi a terra lavrada, os campos planície, vi a estátua de uma santa à entrada da aldeia, e aquele regar vindo do céu, ligeiro, muito ligeiro que generosamente continuava.
Ao fundo a tua voz chamou pela cadela, esta correu ao teu encontro, com uma alegria sincera de ser.
Aproximavas-te devagarinho, és tu minha irmã, sim é a minha irmã, finalmente te via,
tal qual como és e como sempre te vi, sem tristeza no rosto, sem prisão.
Caminhámos,
que sensação de voltarmos a caminhar juntas, mesmo parecendo que não dizíamos nada,
dizíamos tanto entre uma palavra e outra espaçadamente, no silêncio transitório de uma respiração.
Depois de ter visto o fogo, levaste-me ao castelo mágico da liberdade e confiança, enquanto observávamos aqueles jardins imensos,
ajudaste-me a restituír sem te aperceberes qualquer coisa que sentia que tinha perdido.
Despedimo-nos com um abraço e qualquer coisa ficou por dizer, e mais algum abraço por dar, e mais coisas por desabafar.
No dia seguinte regressava à cidade.
Texto: Clara Marchana
Fotografia: Clara Marchana
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