Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

1ª Lua cheia da Primavera

E eu para aqui escondida atrás das palavras.

"Poemacto"

(Ao Dia Mundial do Teatro, um poema de Herberto Helder) O actor acende a boca. Depois os cabelos. Finge a s suas caras nas poças interiores. O actor põe e tira a cabeça de búfalo. De veado. De rinoceronte. Põe flores nos cornos. Ninguém ama tão desalmadamente como o actor. O actor acende os pés e as mãos. Fala devagar. Parece que se difunde aos bocados. Bocado estrela. Bocado janela para fora. Outro bocado gruta para dentro. O actor toma as coisas para deitar fogo ao pequeno talento humano. O actor estala como sal queimado. O que rutila, o que arde destacadamente na noite, é o actor, com uma voz pura monotonamente batida pela solidão universal. O espantoso actor que tira e coloca e retira o adjectivo da coisa, a subtileza da forma, e precipita a verdade. De um lado extrai a maçã com sua divagação de maçã. Fabrica peixes mergulhados na própria labareda de peixes. Porque o actor está como a maçã. O actor é um peixe. Sorri assim o actor contra a face de Deus. Ornamenta Deus com simplicida...

Artesanato onírico

Inventa, cria as tuas próprias asas e voa. Quero criar as minhas, fazê-las à mão. Texto: Clara Marchana

Sorriso fértil no equinócio

Invadem-me as flores, que abençoada e tão esperada invasão, a primavera entra fiel, o verde em força derrete o gelo frio do branco inverno, a transformação da terra, a fertilidade faz um sorriso na doce mudança, e a expressão manifestada acolhe a mãe natureza, poderosa força a ser escutada com tanto silêncio e abertura. Texto: Clara Marchana

"Tarde com Sol"

As coisas simples dizem-se depressa; tão depressa que nem conseguimos que as oiçam. As coisas simples murmuram-se; um murmúrio tão baixo que não chega aos ouvidos de ninguém. As coisas simples escorrem pela prateleira da loja; tão ao de leve que ninguém as compra. As coisas simples flutuam com o vento; tão alto, que não se vêm. São assim as coisas simples: tão simples como o sol que bate nos teus olhos, para que os feches, e as coisas simples passem como sombra sobre as tuas pálpebras. Poema: Nuno Júdice Fotografia: Berenika

"...sedimentação dos saberes..."

" Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguida uma outra onde se ensina o que não se sabe: chama-se a isso investiga r. Vem talvez agora a idade de uma outra experiência: a de desaprender, de deixar de trabalhar o retocar imprevísivel que o esquecimento impõe à sedimentação dos saberes, das culturas, das crenças que se atravessou. Essa experiência tem, creio, um nome ilustre e fora de moda, que ousarei tomar aqui sem complexo, na encruzilhada mesmo da sua etimologia: Sapientia : nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria, e o máximo de sabor possível." BARTHES, Roland, Œuvres complètes , Paris, Seuil, 2002 ( volume V , p. 446), numa tradução de Nuno Júdice in Colóquio Letras , Revista Quadrimes tra l , Fundação Calouste Gulbenkian, n.172, Setembro/Dezembro 2009 (p. 32).

"A tutte le donne"

a tutte le donne Fragile, opulenta donna, matrice del paradiso sei un granello di colpa anche agli occhi di Dio malgrado le tue sante guerre per l'emancipazione. Spaccarono la tua bellezza e rimane uno scheletro d'amore che però grida ancora vendetta e soltanto tu riesci ancora a piangere, poi ti volgi e vedi ancora i tuoi figli, poi ti volti e non sai ancora dire e taci meravigliata e allora diventi grande come la terra Alda Merini , poetisa e escritora italiana (1931-2009) "(sono una piccola ape furibonda) mi piace cambiare di colore. mi piace cambiare di misura."