Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de 2011

Interrogações espontâneas

Que fazer quando não entendem o teu estado de urgência?- pergunta-se ela a si mesma, enquanto cose dois buracos que tinha na camisola de lã preta. Que responder a quem te olha, mas não te vê? Texto: Clara  Sofia Obra: John White Alexander (1856-1915), " An Idle Moment" (1885)

Árvore seca

No meio de tanta coisa sem sentido, numa sociedade cada vez mais desequilibrada, não me resta senão confiar cada vez mais na inteligência do universo, nos desígnios divinos. Texto: Clara  Sofia

Entre

Entre a precariedade e a magia entre as andorinhas e o carvalho. Texto: Clara  Sofia

O cume

Desaparecer devagarinho, não deixar rasto, ninguém se vê de verdade, poucos vêem, talvez nem ela se veja, mas é essa a sua vontade, correr para os braços do silêncio, e pedir que a embale, ali não há correrias de querer ser, não há comparações, existe apenas um espelho que lhe devolve a verdade, sem deformações. E quanto mais vemos menos somos vistos pelo outro. Andamos tão preocupados em atingir cumes fora das nossas medidas que nos esquecemos de atingir a simplicidade, que é o cume mais difícil de alcançar, mas o mais generoso, que nos enriquece desde o início do caminho. Texto: Clara  Sofia Fotografia: encontrada na net sem identificação

"In the Name of the Land"

E se o vento?

O vento sopra forte, e o que é que acontece quando sonhamos que o vento sopra forte? Acordamos e ele está para ali a falar alto, a correr, e a trazer notícias de mudança, que paralelo comunicante. Texto: Clara Marchana

Alexandre O'Neil

"O poeta está só, completamente só. Do nariz vai tirando alguns minutos De abstracção, alguns minutos Do nariz para o chão Ou colados sob o tampo da mesa Onde o poeta é todo cotovelos E espera um minuto que seja de beleza. Mas o poeta é aos novelos; Mas o poeta já não tem a certeza De segurar a musa, aquela Que tantas vezes arrastou pelos cabelos... A mosca Albertina, que ele domesticava. Vem agora ao papel, como um insecto-insulto, Mas fingindo que o poeta a esperava... Quase mulher e muito mosca, Albertina quer o poeta para si, Quer sem versos o poeta. Por isso fica, mosca-mulher, por ali... -Albertina!, deixa-me em paz, consente Que eu falhe neste papel tão branco e insolente Onde belo e ausente um verso eu sei que está! -Albertina!, eu quero um verso que não há!... Conjugal, provocante, moreno e azulado, O insecto levanta, revoluteia, desce E, em lugar do verso que não aparece, No papel se demora com um insulto alado. ...

Calados encontros

Encontro com a pureza, com a beleza, com a sinceridade, com a inocência, sussurrantes, vieram ter comigo e abraçaram-me. Texto: Clara Marchana Fotografia: Mark Sink

Anfitriã

Dias chuvosos hospedados por uma inesperada letargia animada, que não pára de dançar à minha volta, e teima em mostrar-se nos seus virtuosos rodopios esvoaçantes, para depois mergulhar, queda livre, em direcção ao meu corpo, muito gosta ela de ser vista, vaidosa, não a desculpo, se ao menos ela se cansasse, a letargia por vezes é danada. Texto: Clara Marchana Obra: John White Alexander (1856-1915), " Memories" (1903)

Resmunguices do meio

Boquiaberta não consegue pronunciar palavra, mover sentidos, vagueia por parte nenhuma, em exasperação inusitada, inquieta, trasfega páginas de livros sem rumo, diários sem lógica, resmunga baixinho cansada, interroga-se como foi ali parar, resume que desta vez vai tentar sair, mal educadamente, pela porta das traseiras, sem avisos, sem malas, sem nada. Pode ser que encontre saída, nova estrada. Texto: Clara Marchana Fotografia: Clara Marchana

1 história por dia #9 ou a intuição sincera

Sinceramente foi a palavra, sincero foi o estado que a invadiu numa tarde aparentemente pouco especial. Quero ver a côr dos teus olhos, disse para si mesma, não tinha ninguém à sua frente. A frase saltou-se-lhe de rompão, quis pular-lhe do peito. Sincera é a sensação que lhe escorrega no espírito, sem tirar nem pôr, sem nada a acrescentar. Texto: Clara Marchana Obra: Alphonse Mucha (1860-1939)

"Sobre o caminho"

Sobre o Caminho Nada nem o branco fogo do trigo nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros te dirão a palavra Não interrogues não perguntes entre a razão e a turbulência da neve não há diferença Não colecciones dejectos o teu destino és tu Despe-te não há outro caminho Texto: Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água" Obra: Lady Godiva (1898) de John Collier (1850-1934)

1 história por dia #8 ou paradoxos de locomoção

Há muitos dias que a rapariga não sai de casa com o sol nos olhos. A única coisa que tem aprendido a fazer, é perder-se. E como o sabe fazer. Adquiriu agilidade no acto de se perder de si mesma. Tem a sensação de não estar a andar a lugar nenhum, vive apenas presente, no momento presente, vê passar o tempo, a paisagem. Quem sabe, se já não consegue simplesmente, ver o que está à sua frente. Paradoxos das estradas. Estará ela a atravessar um portão tão grande, sem se aperceber? Ou, será este tão pequeno que nem repara? E sem se dar conta está a caminhar, a sair, e a estrada já não é a mesma, e vai finalmente em direcção ao seu encontro. Texto: Clara Marchana

Corpo sem recados

Porque é Janeiro, começo devagar, movimento a terra do meu corpo, corpo sem encaixe, sem lugar, sem nome. Construção de estradas inacessíveis, corpo anónimo, assim me vai sussurrando que quer estar, sem recados, nem visões. Texto: Clara Marchana Obra: Claudio Valenti , Schiena Femminile

Janeiro...

Concept: RJ Muna and Rachael Lincoln Choreography and Performance: Rachael Lincoln Set and Videography: RJ Muna Editing: Cari Ann Shim Sham A dance for camera solo.