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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2009

Liberdade

Ai que prazer Não cumprir um dever, Ter um livro para ler E não fazer! Ler é maçada. Estudar é nada. Sol doira Sem literatura O rio corre, bem ou mal, Sem edição original. E a brisa, essa, De tão naturalmente matinal, Como o tempo não tem pressa... Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa que está indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma. Quanto é melhor, quanto há bruma, Esperar por D. Sebastião, Quer venha ou não! Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor de tudo são as crianças, Flores, música, o luar, e o sol, que peca Só quando, em vez de criar, seca. Mais quieto que isto É Jesus Cristo,  Que não sabia nada de finanças Nem consta que tivesse biblioteca...                                       Fernando Pessoa, in " Cancioneiro"

Amor cidade arqueológica

Tenho a sensação que o amor que se vive nesta cidade é arqueologia, e ao mesmo tempo, um pouco amor marginal, amor proibido, escondido, amor esquecido, remoto, que não respira, nem transpira. Nos olhares que se cruzam, não há brilho, o ar é profano, deturpado, cínico, enganador, e para sobreviver é preciso ser esperto, falso, vendedor, prostituto, a um tal ponto que se esqueceram de ver, de reparar na verdade do outro, deixaram de se reconhecer entre si. Aqui tudo se usa, tudo se confunde, tudo se vende, tudo pode servir para se chegar mais alto, já ninguém é genuíno, ou devem ser poucos, como são poucas as relações genuínas. Extingue-se a genuinidade, extingue-se a inocência, a espontaneidade, amor em vias de extinção. Na grande cidade-museu, na maior cidade arqueológica do mundo, o amor tornou-se arqueológico, enterrado, marginalizado, fora da lei, escondem-no porque se envergonham de o mostrar, porque se sentem expostos ao ridículo pensando ...

Sempre Tu

Mar que cresces para mim, cada vez que te encontro pelo sentir. Não sei como o fazes. Não te procurei, e nem sequer decidi ver-te, porque não o posso fazer. Mas mesmo assim causas-me este efeito à distância, convidas-me sem me convidar, fazes-te sentir, como se estivesses perto, muito perto. Texto: Clara Marchana

Senza parole

Sem palavras. Que fazer, quando somos acordados pela terra que treme? A surpresa mistura-se com a incredulidade de que esteja mesmo a acontecer. Mas quem esperava ser acordado durante a noite por um tremor de terra? A cama abana, o candeeiro balança, somos acordados pelo susto, pelo inesperado, o espanta-espíritos que se agita e canta, a cadela que ladra, os alarmes dos carros na rua que disparam, que gritam, saltamos da cama, caminhamos pela casa e sentimos o chão que nos abana, assustados tentamos manter a calma, Mas como? O pânico quer invadir, será melhor fugir a correr, sair de casa? Em segundos o teu corpo e mente percorrem emoções limite, de medo, susto, pânico, por segundos perdemos as referências e só pensamos em salvar-nos, parece que o instinto de sobrevivência entra em estado de alerta e põe-se a funcionar automaticamente. Quando tudo se acalma, o corpo ainda em estado de choque, continua a tremer pelo inesperado susto. Levamos algum tempo ...

Por serem tantas as palavras

Passaram-se alguns dias sem que eu tivesse a coragem para escrever. Faltaram-me as palavras, no meio de tantos assuntos, de tantos acontecimentos, de tantas histórias, tantas frases, e no meio de tanta coisa, faltaram-me exactamente, as palavras, não as encontrava, eram tantas, que não me deixavam espaço para escrever. Texto: Clara Marchana