- Esta noite gostava de ir ao teatro ver um espetáculo de dança, mas nao tenho dinheiro - disse-me ela, meio chorosa. Tinha-me contado que nesse dia, também tinha batido com a cabeça, duas vezes na maçaneta da porta da varanda da cozinha, enquanto estendia a roupa no estendal do lado de fora da janela, tinha-se baixado para pegar nas molas. O cesto das molas estava no chão. Duas vezes uma a seguir a outra, à segunda rebentou-lhe a paciência e explodiu num choro. Correu para a casa de banho para se olhar ao espelho, na testa, um alto na cabeça e as lágrimas que lhe corriam pela cara abaixo. Chorava irritada, não só por aquilo que lhe tinha acontecido, mas por tudo o que vivia naqueles dias, ao mesmo tempo pensava, em todas as vezes que se sentiu vitima, e que desta vez não se sentia assim, não se lamentava, chorava apenas de raiva, de tanta coisa ao mesmo tempo. Estava diferente. Tinha mudado. Pôs água na cara, mas queria era molhar-se toda, essa era a sua vontade, sem se importar se ...
Fragmentos.