Sinceridade

Para ser sincera.

Sem sorriso.
Melancolia.
Parece que sinto mais a vida, filigrana de cristal. Olho para as coisas já com saudade. Esmurraça-me.
Fiquei comovida, ao ter olhado para o outro, que se manifesta triste com os outros, que pensa sozinho em voz alta, dizendo que se apercebe o quanto os outros se movem apenas pelo dinheiro.
Depois toca piano devagar e baixinho, olhando para o vago em frente.
Há pouco tinha tocado para a filha pequena, que está longe, através de uma webcam, um mini-recital para doze crianças da sua classe e a professora. Passou o dia anterior e a manhã seguinte a preparar- se para aquele momento. A filha fez-lhe um bolo para o Dia do Pai. As crianças olhavam para ele contentes, enquanto ele tocava, um pai pianista, bateram-lhe muitas palmas, pedindo-lhe para agradecer em forma de vénia. Ao final de cada peça que tocava, pediam-lhe que repetisse a vénia vezes e vezes sem conta. Ficaram contentes com um dia de aulas diferente.
Eu escutava o piano numa outra parte, a minha pele espreitava pela porta, e lágrimas. Como poderia conter-me? Tão tocante. Tão milagre. Seres humanos a manifestarem o seu melhor, sem esperar qualquer reconhecimento.
As pessoas comovem-me, as emoções, os pensamentos e como se manifestam nos gestos, olhares e posturas subtis.
Somos tão imensos, tão grande esse mar emotivo, tão cheios de milagres.
Somos tão frágeis, tão sublimamente comoventes, quando há verdade. Embora dura.

Clara Sofia

Imagem: Sabina Tabakovic

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