Das sombras

Existem períodos que nos sentimos assim,
sem nada a dizer,
sem saber o que exprimir.
Talvez seja tanto o que se tem para falar que não nos decidimos pelas palavras,
vamos guardando no baú as coisas que ficam por dizer, aguardando o momento certo, e  o tempo vai passando,
e o momento certo se calhar também,
um dia abrimos o baú, e saltam de lá todas as palavras,
palavras que puxam histórias,
e histórias cada vez mais longas.
E o que fazer com esta confusão que salta à nossa volta?
Podemos continuar sem abrir a boca,
adiando mais uma vez as conversas, os gritos, os segredos, as confissões, os desabafos, os choros, o dizer que te amo, e às vezes até o rir,
por receio que alguém se lamente,
por se cantar sempre a mesma canção,
ou então como um fruto, que ainda é verde, que só se pode colher no momento certo,
e pensamos que talvez seja melhor continuar a esperar.
A matéria de que se trata, por vezes, é densa e difícil de se tornar palavra,
matéria pouco soalheira e teimosa.
Mas nalguns momentos é preciso arriscar, puxar das palavras, ajudá-las a sair e cantar mesmo que seja a mesma canção, mesmo que se lamentem, mesmo que.
E eu que pensava que comunicar era mais fácil,
agora já não sei,
mas se calhar é apenas uma fase.

Texto: Clara Marchana
Fotografia dos autores: José de Almeida e Maria Flores 

Comentários

Marisa Borges disse…
Olá Clara

se te compreendo!!! Também sinto que às vezes não digo, não faço isto ou aquilo por esta ou aquela razão, mas na verdade é porque penso demais.

Ser verdadeira connosco é muito importante e respeitar os outros também; a linha que separa esses dois é a da nossa actuação, mas não é fácil de a encontrar, nem sempre.

As tuas palavras vieram directamente ao meu coração, ando com vontade de dizer umas quantas coisas, mas porque não quero dar importância, mas porque não saberei dizê-las com diplomacia, mas porque ainda são feias e não passam de acusações, mas porque..., mas porque...e o tempo vai passando e a emoção a ficar cada vez mais negra.

Usaste a imagem de um baú com tralhas a saírem de lá, pois para mim a imagem é mesmo de algo que cresce no canto escuro de um quarto
e que um dia é tão real que se tornou um monstro mesmo!!! Temo as emoções descontroladas, principalmente as minhas eheheheh

Acredito que a comunicação é fácil, mas primeiro temos de descobrir a nossa comunicação interior, creio. Quando reconheces o comportamento que tens aqui, ali, ou quando sabes estar certa de algo, quando digeriste a densidade desta palavra...consegues comunicar. Só depois de haver luz e paz em nós conseguiremos transmitir aos outros. Creio que o "problema" é quando ainda não sabemos ao certo o que aquilo nos diz e vamos falar com o outro...aí surge a confusão.

Bem, puseste-me para aqui a debitar assunto...

Fico por aqui, mas antes parabéns pelo teu blogue é muito cool e profundo!

Uma beijoca e sim...se calhar é só uma fase
Clara Sofia disse…
Olá Shin,

Devo dizer-te que me deu muito prazer ler o que escreveste, e que essa tua vontade de "debitar assunto" só veio despertar e estimular boas reflexões.
Agradeço que tenhas partilhado por aqui um pouco de ti.

Parabéns também aos teus blogs, gosto muito de ler o que escreves.

Beijinho
Às vezes tb me sinto assim! São fase, felizmente somos humanos e passamos pelos mais variados sentimentos e pensamentos!
Juliett Farnesse disse…
silencie os espaços que a mesma língua nos impor.

Precioso.

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