O cavalo e o touro


No sonho existia um cavalo que corria numa praia.
Separado por um muro e uma rede, do outro lado da praia existia um touro, que tentava agredir o cavalo.
O touro era estimulado por um grande grupo de pessoas que corriam e gritavam atrás dele e o incitavam a atacar o cavalo.
O cavalo percorria de um lado ao outro a rede, assustado e inquieto por toda aquela situação, enquanto o touro, provocado por todas aquelas pessoas sedentas de violência e de uma odiosa excitação no rosto. O touro perseguia o cavalo ao mesmo tempo que se esbarrava contra o muro e a rede.
Enquanto observava toda aquela cena, olhei para o touro e pensei: "- Aquele touro afinal não quer atacar o cavalo, está simplesmente a ser provocado e estimulado por todas aquelas pessoas. Ele nem sequer quer ali estar, quer que o deixem em paz, aquela é a sua força natural e aquelas pessoas utilizam-no e aproveitam-se disso para o seu próprio prazer luxurioso de um divertimento vazio.
Num determinado momento, o cavalo assustado tenta tocar, com o focinho, num sino que estava suspenso na rede, e o touro de tantas vezes que esbarrou contra o muro, acaba por deitar a rede abaixo, enquanto que o muro e a rede acabam por cair em cima do cavalo, juntamente com o touro, e todas as pessoas que corriam atrás deste, que se divertiam inconscientes do mal que faziam aos pobres animais e a si mesmos, aquelas pessoas cheias de um prazer egoísta, ignorantes e bulímicas de uma violência embriagada e sôfrega. Acabam por se destruir a si mesmas ao terem caído na própria armadilha que criaram, levando com elas tudo o que existia de bom naquela praia.
Eram inconscientes por opção.
Chorei ao ver aquela cena, estava a observar tudo aquilo sem poder fazer nada, sem poder tomar partido, sem poder agir. Fiquei triste, muito triste.
Agora uma profunda sede de liberdade chama por mim, uma profunda firmeza, um profundo sentido, um profundo desejo e vontade de deitar abaixo os muros que nos separam e mascaram o nosso devir, ao mesmo tempo que um querer lutar se mistura com a tristeza de que na realidade, continuo a ver e a assistir, sem nada poder fazer, ao que se passa no nosso pobre, rico mundo.
Só espero que tudo isto seja parte de um caminho passageiro que temos de atravessar para chegar a bom porto.
Boa noite.

Texto: Clara Marchana

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